December 23, 2005
Feliz Natal a todos
Caros amigos!
É um prazer receber tantos comentários e emails, eu nem imaginava que fosse tão gostoso ter um blog.
Hoje vim só para desejar Boas Festas a todos e apresentar meus 4 filhotes maravilhosos: Mikolt (quase 21), Zsolt (quase 17), Dóra (11) e Péter (10 na semana que vem). Ano que vem eu apareço por aqui de novo!
December 14, 2005
Eva e Adão
(texto enviado pela minha grande amiga Cláudia Grigolon)
O que teria acontecido se o homem só tivesse sido criado a fim de que um único tipo de amor existisse, o materno?
Talvez assim Deus não teria permitido que a humanidade caísse em tentação... Ou seja, Eva bem que poderia ter nascido antes de Adão a fim de ser sua mãe e não sua amante. Que loucura! Já pensou? Ao invés de comerem maçã juntos debaixo da sombra de uma frondosa árvore, correriam pelo Paraíso em busca de uma serpente que fizesse números de contorcionismo para fazer o menino rir até cair em sono tranqüilo...
Talvez se Eva não tivesse tido a oportunidade de saber que dali a alguns milênios tudo voltaria aos princípios... Aos princípios, sim. Explico-me. Se Eva não tivesse sido fecundada por Adão, mas pelos ancestrais do anjo Gabriel, talvez hoje nem se ouvisse falar em engenharia genética...
Essa teoria virtual da expansão da raça humana poderia levar os mais céticos a questionar como seria possível termos chegado aqui, hoje, sãos, salvos e sob a mais absoluta semelhança divina, sem que tivesse havido a ciranda biológica que nos desencadeou. É muito simples. Se Lúcifer pôde ser um anjo caído e, partindo do princípio que Eva tenha sido criada antes que Adão, que chega ao Paraíso como seu filho, meia resposta já está dada.
A segunda metade baseia-se na hipótese de que Eva poderia ter tido a prerrogativa de ter escolhido para pai de Abel e Caim alguém que já tivesse tido a experiência de ter sido anjo um dia...
Nem mesmo Malthus acharia tenebrosa essa teoria.
Se a humanidade, descendente divina de forma direta, fosse além disso, descendente direta de Eva e de um ta-ta-ta-ta-ta-ta-...-ravô anjo, talvez o nome Adão nem existisse nos dicionários de nomes...
A utopia ainda é a maior perfeição já alcançada. O erro, a maior virtude, inclusive a divina, e o amor... O amor, dessa forma, o maior erro.
Por isso, rezo todas as noites e digo:
- Senhor, agradeço-vos por poder acertar e errar, amar e odiar numa mesma oração. Já que não sou Eva, nem Malthus, nem Aldous Huxley...
Veríssimo
Meu irmão János ontem mesmo me disse que eu deveria ter explicado a última frase do artigo sobre os gansos, pois a piada não ficou clara. Será que alguém realmente acreditou que os avicultores húngaros enfiam as pobres aves n’água até morrerem?
...Um Gottes Willen!
Às vezes me pergunto se existe alguma técnica para quem deseja escrever com ironia? Vejam o que Luis Fernando Veríssimo respondeu: „É curioso. Os brasileiros estão acostumados com a ironia, nada mais comum do que duas pessoas que se amam se agredirem ironicamente, ou as pessoas dizerem o contrário do que realmente pensam, mas coloque-se isso num texto e o comum é as pessoas não entenderem. Esta é a maior ironia de todas. Se há uma técnica para escrever com ironia? Não, é só ser irônico, brasileiramente.”
A entrevista toda pode ser vista aqui:
http://revistalingua.uol.com.br/textos.asp?codigo=10953
Alguém tem alguma sugestão do que seja "ser irônico, brasileiramente"?
O que você daria? (Parte 2)
Recebi inúmeros emails e comentários dando sugestões de quais seriam as versões modernas do ouro, incenso e mirra caso os três reis magos estivessem vivos e tivessem que presentear o Menino Jesus na semana que vem.
Lenise Resende nos relata que „imagens dos reis magos só apareceram em presépios por volta de 1484” e que „o ouro representava o poder material, o incenso a nobreza e a amarga mirra significava o sacrifício que Jesus enfrentaria”.
Achei um pouco forçado, acho que é bem mais simples e pragmático: O ouro, obviamente, significava a riqueza. A mirra, que é uma resina aromática originária da Babilônia usada como perfume (e que se usa queimar nas igrejas em ocasião de festa ainda hoje) representava, na minha opinião, a vida espiritual. E o terceiro presente, que na realidade era um incenso chamado olíbano representava a saúde, pois é uma goma resina para aplicações tópicas em ferimentos.
Concluo portanto, que hoje em dia os presentes atualizados seriam um cartão de crédito „ouro”, uma consulta paga num psiquiatra e um plano de saúde mirrado.
Lenise Resende nos relata que „imagens dos reis magos só apareceram em presépios por volta de 1484” e que „o ouro representava o poder material, o incenso a nobreza e a amarga mirra significava o sacrifício que Jesus enfrentaria”.
Achei um pouco forçado, acho que é bem mais simples e pragmático: O ouro, obviamente, significava a riqueza. A mirra, que é uma resina aromática originária da Babilônia usada como perfume (e que se usa queimar nas igrejas em ocasião de festa ainda hoje) representava, na minha opinião, a vida espiritual. E o terceiro presente, que na realidade era um incenso chamado olíbano representava a saúde, pois é uma goma resina para aplicações tópicas em ferimentos.
Concluo portanto, que hoje em dia os presentes atualizados seriam um cartão de crédito „ouro”, uma consulta paga num psiquiatra e um plano de saúde mirrado.
December 09, 2005
Quando o ganso paga o pato
Desde o dia 11 de novembro até o Natal, ganso assado com batatas e repolho roxo é um prato festivo que não pode faltar nas mesas húngaras.
Diz a tradição, que quem não come ganso neste dia sentirá fome o ano todo = Aki Márton-napon libát nem eszik, egész éven át éhezik. Nos vilarejos os camponeses, examinando os ossos da ave, prevêem se o inverno terá bastante neve (ossos longos e bem clarinhos) ou só chuva e lama (ossos escuros e curtos).
Neste dia comemora-se o Dia de São Martinho (Szent Márton) e lendas envolvendo a vida deste santo deram origem a tradições que permanecem vivas até hoje em inúmeros países da Europa.
Nascido em 316 na Panônia, a Hungria de então, Martinho foi filho de um tribuno romano. Por ordem do pai, aos 15 anos entrou para a legião romana e, aos dezoito, já era soldado em Amiens, na França. No rigoroso inverno de 334, um mendigo cruzou o caminho de Martinho. O jovem soldado, que estava a cavalo, usando de sua espada cortou seu manto em dois, dando a metade ao pobre para que não sentisse frio. À noite, Cristo teria aparecido a Martinho em sonho, trajando a metade do manto ofertado algumas horas antes. O futuro padroeiro dos apreciadores de vinho (sabiam disso?) foi batizado logo após seu sonho, deixou o exército e tornou-se missionário, depois sacerdote.
Mas o que tem ele a ver com os gansos?
O clero francês afirmava que ele era o mais indicado para ser o bispo de Tours, mas Martinho, muito modesto, em princípio disse não. Levado a Tours com um subterfúgio pelos colegas, Martinho percebeu que queriam sagrá-lo bispo contra a sua vontade, escapou e foi se enconder num estábulo junto aos gansos. Estes não calaram o bico e fizeram tal escândalo, que acabaram delatando a sua presença. Aí não teve jeito, Martinho entendeu isso como um sinal divino e recebeu a mitra em 371. Faleceu no dia 8 de novembro de 397 e foi enterrado na catedral de Tours três dias depois. É venerado em diversos países como a personificação da modéstia e da virtude cristã de amor ao próximo. Curiosamente, é também padroeiro dos bêbados.
Para quem ainda não sabe, a Hungria é grande exportadora de aves. Personagem coadjuvante de vários contos húngaros (o mais famoso deles sendo Lúdas Matyi = Matias, o pequeno pastor), o ganso húngaro tem a carne mais macia que a dos austríacos ou eslovacos por causa da técnica de abate, única neste país. Enquanto nos países vizinhos matam o ganso de forma tradicional, os avicultores húngaros, talvez para evitar a gripe aviária, preferem afogá-lo.
Diz a tradição, que quem não come ganso neste dia sentirá fome o ano todo = Aki Márton-napon libát nem eszik, egész éven át éhezik. Nos vilarejos os camponeses, examinando os ossos da ave, prevêem se o inverno terá bastante neve (ossos longos e bem clarinhos) ou só chuva e lama (ossos escuros e curtos).
Neste dia comemora-se o Dia de São Martinho (Szent Márton) e lendas envolvendo a vida deste santo deram origem a tradições que permanecem vivas até hoje em inúmeros países da Europa.
Nascido em 316 na Panônia, a Hungria de então, Martinho foi filho de um tribuno romano. Por ordem do pai, aos 15 anos entrou para a legião romana e, aos dezoito, já era soldado em Amiens, na França. No rigoroso inverno de 334, um mendigo cruzou o caminho de Martinho. O jovem soldado, que estava a cavalo, usando de sua espada cortou seu manto em dois, dando a metade ao pobre para que não sentisse frio. À noite, Cristo teria aparecido a Martinho em sonho, trajando a metade do manto ofertado algumas horas antes. O futuro padroeiro dos apreciadores de vinho (sabiam disso?) foi batizado logo após seu sonho, deixou o exército e tornou-se missionário, depois sacerdote.
Mas o que tem ele a ver com os gansos?
O clero francês afirmava que ele era o mais indicado para ser o bispo de Tours, mas Martinho, muito modesto, em princípio disse não. Levado a Tours com um subterfúgio pelos colegas, Martinho percebeu que queriam sagrá-lo bispo contra a sua vontade, escapou e foi se enconder num estábulo junto aos gansos. Estes não calaram o bico e fizeram tal escândalo, que acabaram delatando a sua presença. Aí não teve jeito, Martinho entendeu isso como um sinal divino e recebeu a mitra em 371. Faleceu no dia 8 de novembro de 397 e foi enterrado na catedral de Tours três dias depois. É venerado em diversos países como a personificação da modéstia e da virtude cristã de amor ao próximo. Curiosamente, é também padroeiro dos bêbados.
Para quem ainda não sabe, a Hungria é grande exportadora de aves. Personagem coadjuvante de vários contos húngaros (o mais famoso deles sendo Lúdas Matyi = Matias, o pequeno pastor), o ganso húngaro tem a carne mais macia que a dos austríacos ou eslovacos por causa da técnica de abate, única neste país. Enquanto nos países vizinhos matam o ganso de forma tradicional, os avicultores húngaros, talvez para evitar a gripe aviária, preferem afogá-lo.
December 07, 2005
Luz azul
Como todos sabem, ou deveriam saber, um palíndromo é uma palavra que tenha a propriedade de poder ser lida tanto da direita para a esquerda como da esquerda para a direita. Exemplos: anilina, radar, mirim.
Uma frase também pode ser um palíndromo, mas só se mantiver o sentido. Estas são também chamadas de anacíclicas, do grego anakuklein, significando „que volta em sentido inverso, que refaz inversamente o ciclo”. Na opinião de Millôr Fernandes a palindromia é uma “arte neurótica e maravilhosa, capaz de envergonhar qualquer concretismo”.
Vejamos alguns exemplos: Roma é amor. O teu drama é amar dueto. Seco de raiva, coloco no colo caviar e doces. A cara rajada da jararaca. Luza Rocelina, a namorada do Manuel, leu na Moda da Romana: anil é cor azul.
Rômulo Marinho afirma que os maiores palíndromos do idioma português são de sua autoria. Só conheço uma destas frases, de 83 letras:
„O Gal. Leno Roca, à porta da cidade, a portador relata fatal erro da tropa e dá dica da tropa a Coronel Lago”, mas Marinho diz que já compôs uma de 478 letras e 173 palavras (infelizmente, ainda não tive o prazer de conhecê-la).
Em francês: Esope reste ici et se repose.
Em latim: Roma tibi subito motibus ibit amor.
Em húngaro: Géza, kék az ég.
Em inglês existem centenas, mas a que eu mais gosto é a que foi feita em homenagem a Theodore Roosevelt pela construção do Canal do Panamá:
A MAN, A PLAN, A CANAL: PANAMA.
Mas, adivinhem de quem é o recorde? Acertaram! De um enxadrista húngaro chamado Gyula Breyer (1893-1921), que compôs a seguinte carta de amor no início do século passado:
Nádasi K. Ottó Kis-Adán, májusi szerdán e levelem írám.
A mottó: Szívedig íme visz írás, kellemest író!
Színlelő szív rám kacsintál! De messzi visz szemed… Az álmok (ó csaló szirének ezek, ó csodaadók) elé les.
Írok íme messze távol. Barnám! Lám e szívindulat Öné. S ím e szív, e vér ezeket ereszti ki:
Szívem! Íme leveled előttem, eszemet letevő! Kicsike! Szava remegne ott? – Öleli karom át, Édesem! Lereszket évaszív rám. Szívem imád s áldozni kér réveden – régi gyerekistenem. Les ím. Előtte visz szíved is. Ég. Érte reszketek, szeret rég és ide visz. Szívet – tőlem is elmenet – siker egy ígérne, de vérré kínzod (lásd ám: íme visz már, visz a vétek!) szerelmesedét.
Ámor (aki lelőtt ó engem, e ravasz, e kicsi!) Követeltem eszemet tőled! E levelem íme viszi…
Kit szeretek ezer éve, viszem is én őt, aludni viszem. Álmán rablóvá tesz szeme. Mikor is e lélekodaadó csók ezeken éri, szól: A csókom láza de messzi visz!… Szemed látni csak már!… Visz ölelni!… Szoríts!…
Emellek Sári szívemig. Ide visz
Ottó
Ma már ím e levelen ádresz is új ám: Nádasi K. Ottó Kis-Adán.
Não vou traduzir o longo texto para o português, mas acreditem: é genial!
December 06, 2005
Feliz Mikulás a todos!
Alguns de vocês me perguntaram sobre „a lista do Papai Noel”. Aqui na Hungria as crianças escrevem a lista de presentes que querem ganhar para o Jézuska (Menino Jesus) e não para o Mikulás. Os envelopes são entregues para os pais (sem data certa), que os colocam no correio.
Só os meus filhos é que – sabe Deus por que – aproveitam a oportunidade e colocam as cartinhas dentro dos sapatinhos na noite do dia 5. É bastante lógico, não? São Nicolau deve saber onde entregar a carta… e bem mais rápido!
Desejo a todos os meus leitores um dia cheio de bombons e chocolates!
Só os meus filhos é que – sabe Deus por que – aproveitam a oportunidade e colocam as cartinhas dentro dos sapatinhos na noite do dia 5. É bastante lógico, não? São Nicolau deve saber onde entregar a carta… e bem mais rápido!
Desejo a todos os meus leitores um dia cheio de bombons e chocolates!
December 03, 2005
Aqui não temos renas!
O dia 6 de dezembro está chegando! Para quem não sabe, neste dia comemora-se o dia de São Nicolau (Mikulás, ou Papai Noel) por aqui. Na noite do dia 5 as crianças colocam seus sapatinhos ou botinhas no beiral da janela e na manhã seguinte estes aparecem cheios de bombons, chocolates, nozes, avelãs e eventualmente um „virgács” se a criança não foi boa o suficiente, ou se suas notas escolares não foram as esperadas. Virgács é um punhado de varas finas de vidoeiro amarrados com um arame fino, que era usado no passado para bater. Hoje é só um símbolo da antiga palmatória, mas nenhuma criança gosta de encontrar um virgács dentro do seu sapatinho na manhã do dia 6, não!
Aqui na Hungria o Papai Noel não é um símbolo natalino como no Brasil (ou como o Santa Claus é nos países anglo-saxônicos), mas sim do Advento, da época na qual nos preparamos espiritualmente para a „chegada da luz”. Depois das Festas „a escuridão se vai” não só simbolicamente, mas na prática também por que os dias começam a ficar mais longos e as noites mais curtas. Não foi por acaso que a Igreja optou por colocar a comemoração do nascimento de Jesus nesta época do ano.
O bonachão de roupa „piros” (que originalmente não era desta cor, vide artigo „Aqui vai o gabarito…”) só faz parte dos costumes húngaros há uns 150 anos. Na época do pós-guerra o então regime comunista fez de tudo para que o Natal perdesse sua conotação religiosa e rebatizou a festa de Fenyő Ünnepe (Festa do Pinheiro) e o Mikulás de Télapó (Pai Inverno) sugerindo que ele fosse „um bom camarada”. Mas não deu certo. Embora muitos usem o termo Télapó ainda hoje, este já perdeu sua conotação „vörös” totalmente.
O pessoal de marketing trabalha fortemente a imagem do velhinho no início de dezembro, mas ela vai se esvaindo e perto da Véspera de Natal o Papai Noel não é mais visto nas propagandas de TV ou cartazes de rua. Mais uma curiosidade é que quando o Papai Noel aparece nos shoppings ele está sempre acompanhado de duas ou três „krampusz”, mocinhas vestidas de capeta com collants pretas e vermelhas e chifres na cabeça. O costume de assustar ou castigar as crianças más veio dos colonos saxões que habitavam o norte do país (hoje Eslováquia) e a Transilvânia (hoje Romênia). São Nicolau foi um santo muito querido naquelas regiões de culturas múltiplas. A origem da palavra krampusz é „Krumm-fuss” ou „Klumpf-fuss”, expressões alemãs que lembram as patas do diabo. Mas essas doces moças, embora diabólicas na sua aparência, são sorridentes e não afugentam as crianças… muito pelo contrário. Elas ajudam o Papai Noel na distribuição dos presentes e atraem os olhares dos papais enquanto os pequenos conversam com o velhinho.
Mas qual a origem do nosso personagem? Nascido na cidade de Patara, Ásia Menor por volta do ano 274 (algumas fontes mencionam 245, outras chegam até a 280), Nicolau foi filho de uma família rica. Perdeu os pais numa epidemia que dizimou a cidade e, após distribuir sua herança entre os pobres, foi morar com seu tio, que era bispo de Patara. Por influência do tio optou pela teologia e tornou-se padre.
Conta-se que durante o império de Deocleciano, Nicolau passou algum tempo na prisão, mas foi logo libertado. Um dia, voltando de uma peregrinação à Terra Santa parou em Myra, capital da Anatólia, onde teve uma enorme e grata surpresa. Diz a história que a Igreja em Myra era muito corrupta e que os clérigos brigavam muito entre si pelo poder. Após umas dessas graves discussões, um dos sacerdotes teve uma visão divina e sugeriu aos outros: „Que seja nosso bispo o próximo padre que entrar pelos portões da cidade!” Algumas horas depois Nicolau chegou e, tomado de surpresa, foi nomeado bispo, aos 24 anos de idade!
Nicolau (ou Miklós em húngaro, pois Mikulás é um apelido carinhoso de origem tcheca) dedicou sua vida inteira à educação e ajuda das crianças. Participou do Sínodo de Nicéia em 325, o primeiro Concílio Ecumênico do mundo. Morreu em Myra (hoje Demre) no dia 6 de dezembro de 350. Algumas fontes mencionam o ano de 326 mas em todo caso, seu bispado durou 52 anos. Podem fazer as contas, se quiserem.
Além de ser o símbolo da bondade, tornou-se patrono dos guardas noturnos e santo protetor dos marinheiros, dos pescadores, das crianças e – vejam só! – das virgens. Uma lenda conta que um pai malvado tinha três jovens filhas e que como não havia dinheiro em casa, ele tentou convencê-las a vender prazeres carnais, ajudando assim no orçamento familiar. Nicolau apareceu de surpresa entregando várias moedas de ouro às meninas pela janela (aqui o motivo de por que colocar os sapatinhos „na janela”), salvando-as deste triste fim.
Fico aqui pensando com os meus botões: será que as três „krampusz” que sempre o acompanham tem algo a ver com isso?
Ah, aqui não temos renas, viu?!
Aqui na Hungria o Papai Noel não é um símbolo natalino como no Brasil (ou como o Santa Claus é nos países anglo-saxônicos), mas sim do Advento, da época na qual nos preparamos espiritualmente para a „chegada da luz”. Depois das Festas „a escuridão se vai” não só simbolicamente, mas na prática também por que os dias começam a ficar mais longos e as noites mais curtas. Não foi por acaso que a Igreja optou por colocar a comemoração do nascimento de Jesus nesta época do ano.
O bonachão de roupa „piros” (que originalmente não era desta cor, vide artigo „Aqui vai o gabarito…”) só faz parte dos costumes húngaros há uns 150 anos. Na época do pós-guerra o então regime comunista fez de tudo para que o Natal perdesse sua conotação religiosa e rebatizou a festa de Fenyő Ünnepe (Festa do Pinheiro) e o Mikulás de Télapó (Pai Inverno) sugerindo que ele fosse „um bom camarada”. Mas não deu certo. Embora muitos usem o termo Télapó ainda hoje, este já perdeu sua conotação „vörös” totalmente.
O pessoal de marketing trabalha fortemente a imagem do velhinho no início de dezembro, mas ela vai se esvaindo e perto da Véspera de Natal o Papai Noel não é mais visto nas propagandas de TV ou cartazes de rua. Mais uma curiosidade é que quando o Papai Noel aparece nos shoppings ele está sempre acompanhado de duas ou três „krampusz”, mocinhas vestidas de capeta com collants pretas e vermelhas e chifres na cabeça. O costume de assustar ou castigar as crianças más veio dos colonos saxões que habitavam o norte do país (hoje Eslováquia) e a Transilvânia (hoje Romênia). São Nicolau foi um santo muito querido naquelas regiões de culturas múltiplas. A origem da palavra krampusz é „Krumm-fuss” ou „Klumpf-fuss”, expressões alemãs que lembram as patas do diabo. Mas essas doces moças, embora diabólicas na sua aparência, são sorridentes e não afugentam as crianças… muito pelo contrário. Elas ajudam o Papai Noel na distribuição dos presentes e atraem os olhares dos papais enquanto os pequenos conversam com o velhinho.
Mas qual a origem do nosso personagem? Nascido na cidade de Patara, Ásia Menor por volta do ano 274 (algumas fontes mencionam 245, outras chegam até a 280), Nicolau foi filho de uma família rica. Perdeu os pais numa epidemia que dizimou a cidade e, após distribuir sua herança entre os pobres, foi morar com seu tio, que era bispo de Patara. Por influência do tio optou pela teologia e tornou-se padre.
Conta-se que durante o império de Deocleciano, Nicolau passou algum tempo na prisão, mas foi logo libertado. Um dia, voltando de uma peregrinação à Terra Santa parou em Myra, capital da Anatólia, onde teve uma enorme e grata surpresa. Diz a história que a Igreja em Myra era muito corrupta e que os clérigos brigavam muito entre si pelo poder. Após umas dessas graves discussões, um dos sacerdotes teve uma visão divina e sugeriu aos outros: „Que seja nosso bispo o próximo padre que entrar pelos portões da cidade!” Algumas horas depois Nicolau chegou e, tomado de surpresa, foi nomeado bispo, aos 24 anos de idade!
Nicolau (ou Miklós em húngaro, pois Mikulás é um apelido carinhoso de origem tcheca) dedicou sua vida inteira à educação e ajuda das crianças. Participou do Sínodo de Nicéia em 325, o primeiro Concílio Ecumênico do mundo. Morreu em Myra (hoje Demre) no dia 6 de dezembro de 350. Algumas fontes mencionam o ano de 326 mas em todo caso, seu bispado durou 52 anos. Podem fazer as contas, se quiserem.
Além de ser o símbolo da bondade, tornou-se patrono dos guardas noturnos e santo protetor dos marinheiros, dos pescadores, das crianças e – vejam só! – das virgens. Uma lenda conta que um pai malvado tinha três jovens filhas e que como não havia dinheiro em casa, ele tentou convencê-las a vender prazeres carnais, ajudando assim no orçamento familiar. Nicolau apareceu de surpresa entregando várias moedas de ouro às meninas pela janela (aqui o motivo de por que colocar os sapatinhos „na janela”), salvando-as deste triste fim.
Fico aqui pensando com os meus botões: será que as três „krampusz” que sempre o acompanham tem algo a ver com isso?
Ah, aqui não temos renas, viu?!
Hungria poderá proibir piadas de loiras
Vocês sabiam que a Hungria poderá aprovar uma lei que proíbe as piadas de loiras? Um grupo delas já deu entrada numa petição nesse sentido no parlamento húngaro, considerando as anedotas uma discriminação.
Falando aos jornalistas, a porta-voz do movimento, Zsuzsa Kovács, adiantou que „as loiras enfrentam discriminação no mercado de trabalho, no emprego, e mesmo nas ruas”. „Se é proibido discriminar os judeus e os negros, porque não dar a mesma proteção às loiras?”, acrescentou.
A petição foi entregue à Ministra da Igualdade, Kinga Göncz, apesar de não ter as cem mil assinaturas necessárias para que a questão seja discutida no Parlamento. No entanto, uma assessora da ministra prometeu às manifestantes que o governo fará tudo para pôr um fim à discriminação.
December 02, 2005
Mais um amigo bate à porta...
Meu amigo Árpád achou „intrigante” este blog interativo e enviou a seguinte simplificação das idéias de Goethe:
"Meu coração tem duas almas,
Que só fazem querer se apartar:
Uma, lasciva, só vive de amores,
A outra vai morrer de tanto pensar.”
Minha grande amiga "extra-terrestre" Anna Barbara Menezes também colocou sua azeitona nesta empada, como diria meu irmão. Segue a versão dela:
"Duas almas, ah, moram em meu seio
Uma quer da outra a separação
Uma se apega com ardente enleio
Aos prazeres do mundo e da paixão
E a outra, das brumas, procura esteio
No campo do saber e da razão."
Quem mais se habilita?
Em tempo: a belíssima estátua de bronze aí na foto chama-se „Duas Almas”, foi feita em 1986 pela artista plástica Maya Clemes e tem 3 m de altura. Ainda não descobri qual dos dois personagens está procurando esteio no campo do saber e da razão.
December 01, 2005
A maior inflação da História
Outro dia deparei-me com o interessante site intitulado „As reencarnações da moeda brasileira”
http://antonioluizcosta.sites.uol.com.br/moeda_brasil.htm
onde o autor afirma que „nominalmente, um real …. equivale a …. 2,75 quintilhões de réis dos velhos tempos, 2,75 quatrilhões de cruzeiros (ou mil-réis), 2,75 trilhões de contos (ou cruzeiros novos), 2,75 bilhões de cruzados, 2,75 milhões de cruzados novos ou 2.750 cruzeiros reais.”
Para os que se lembram das nossas inflações mensais de 40, 50 ou de até 60 por cento a situação econômica do país hoje em dia parece o Paraíso.
Mas qual terá sido a maior inflação da História? Será que foi a alemã no início dos anos 20 quando os preços dobravam de dois em dois dias e o índice de inflação chegou a 3.250.000% ao mês? Ou foi a da Grécia, durante a ocupação alemã (1941-44), quando os preços dobravam a cada 28 horas e o índice mensal foi de 8.550.000.000%?
Nenhuma das duas… Foi aqui mesmo, na Hungria, logo após o término da Segunda Guerra Mundial (1945-46). No último dia da moeda os preços dobravam a cada 15 horas, o equivalente a 4,19% × 10 elevado à 16ª potencia!
Vamos traduzir isso para que nós, leigos, entendamos: em agosto de 1945 um quilo de pão custava 6 pengő, em outubro passou a custar 27, no início de novembro 80, no finalzinho do mês 135, na primeira quinzena de dezembro 310, na segunda quinzena 550, passou para 700 no início de janeiro de 1946, no final do mês já estava em 7.000, no início de maio 8.000.000, no finalzinho do mês 360.000.000, e em junho chegou a 5.850.000.000 pengő.
E as cédulas? Foram sendo emitidas com uma velocidade incomum. No dia 5 de abril de 1945 foram emitidas as de 50 e 100 pengő. No dia 15 de julho já lançaram as de 1.000 e 10.000 pengő, no dia 16 de novembro as de 1.000.000 e 10.000.000 (dez milhões de pengő).
No dia 29 de abril de 1946 novas notas foram emitidas: 10.000.000.000 e 100.000.000.000 (dez mil milpengő e cem mil milpengő, ou 10 bilhões e 100 bilhões de pengő). 35 dias depois, no dia 3 de junho, sete novas cédulas (as últimas da série) tiveram que ser lançadas pois as anteriores não valiam mais nada: a primeira tinha 14 zeros depois do um e a última trazia 20 zeros!
O povo, bem-humorado como sempre, chamou a nota azul de „kis Bözsi” (Betinha) e a amarela de „nagy Bözsi” (Betona) pois as cédulas continham o retrato de uma camponesa.
Finalmente, no primeiro dia de agosto de 1946 introduziram o forint, que persiste até hoje: uma moeda de um forint (1 Ft) podia ser comprada a 400.000.000.000.000.000.000.000.000.000 pengő (podem contar, são 29 zeros). Os preços, de repente, ficaram bem mais „acessíveis”: um quilo de pão passou a custar 0,96 Ft, 1 quilo de batata 0,43 Ft e o salário mínimo ficou por volta de 130 Ft.
Hoje em dia, 60 anos depois, com 220 Ft você compra um dólar americano. Parece que a moeda deu certo, assim como o nosso real.
Cruz torta
Ultimamente ando me esquecendo de várias coisas, uma delas é de entrar no meu próprio blog... parece que estou ficando senil. Se bem que a senilidade tem uma vantagem: poderei esconder os meus próprios ovinhos de Páscoa no jardim.
Uma de minhas leitoras mais assíduas (a que ganhou o jantar "piros") perguntou por quê a cruz da Santa Coroa húngara é torta? Como este blog trata de assuntos de suma importância para a Humanidade, fiz uma pequena pesquisa. Como sempre, existem várias explicações para isso.
Alguns cientistas dizem, que ela já foi feita assim de propósito e que ela indica o ângulo exato da inclinação da Terra. Joalheiros examinaram a base da cruz e não há sinal que comprove que ela tenha sido entortada à força. Isso responderia o porquê da cruz nunca ter sido "consertada"... ou não?
Uma outra versão relata, que na metade do Século XV um Habsburgo chamado Albert reinou durante dois anos aqui na Hungria e morreu. Sua esposa Erzsébet (Elisabeth) quis que seu filho, ainda nem nascido, fosse o próximo rei e numa noite roubou a coroa do Castelo de Visegrád. Sua mais leal camareira ajudou-a e documentou o ocorrido em detalhes num diário. Embrulharam a coroa num travesseiro enorme e como o Danúbio estava congelado, quiseram atravessá-lo num trenó para chegar a Komárom, cidade não muito longe dali. Mas o gelo cedeu e quase tudo se perdeu nas águas do rio. Por sorte a coroa foi salva mas na confusão levou alguns sérios golpes. O diário da camareira não menciona o fato da cruz ter entortado, mas é possível que tenha.
Um desenho de 1620 mostra a coroa ainda com a cruz em pé, mas isso não comprova nada. Nos duzentos anos que se seguiram a coroa viajou centenas ou talvez milhares de quilômetros pois a cada nova batalha ou revolta o símbolo do poder precisava ser escondido e bem guardado. A coroa visitou Pozsony inúmeras vezes (hoje Bratislava), Ecsed, Trencsén, Linz, Passau, Viena, Komárom e mais alguns castelos espalhados pelo reino. As condições das estradas de terra e das carroças eram bastante precárias (se comparadas aos automóveis com amortecedores de hoje em dia) portanto vocês podem imaginar pelo que passou esta bela jóia durante a sua história.
Pesquisas recentes demonstraram, que no dia 14 de fevereiro de 1638 a Santa Coroa sofreu um novo acidente. Ela era guardada dentro de uma capa de cobre, que por sua vez ficava num pequeno baú. Naquele dia houve a coroação da rainha Maria Anna, primeira esposa de Ferdinando II e o camareiro real foi incumbido à última hora de trazer a coroa do rei para a festa. Como ele estava com pressa e havia perdido a chave do baú, este foi aberto de forma violenta, possivelmente entortando a cruz. Mas novamente isto é só especulação, pois ilustrações posteriores, de 1741 e 1790 por exemplo, mostram a cruz ainda em pé.
Em 25 de maio de 1784 o camareiro real do rei József II relata o seguinte: „No dia de hoje, vinda de Pozsony, recebi a Santa Coroa do Reino, que está com a cruz entortada.” Parece que essa é a primeira vez que mencionaram o fato por escrito. Quase todas as ilustrações futuras já mostram a coroa com a cruz torta.
Uma de minhas leitoras mais assíduas (a que ganhou o jantar "piros") perguntou por quê a cruz da Santa Coroa húngara é torta? Como este blog trata de assuntos de suma importância para a Humanidade, fiz uma pequena pesquisa. Como sempre, existem várias explicações para isso.
Alguns cientistas dizem, que ela já foi feita assim de propósito e que ela indica o ângulo exato da inclinação da Terra. Joalheiros examinaram a base da cruz e não há sinal que comprove que ela tenha sido entortada à força. Isso responderia o porquê da cruz nunca ter sido "consertada"... ou não?
Uma outra versão relata, que na metade do Século XV um Habsburgo chamado Albert reinou durante dois anos aqui na Hungria e morreu. Sua esposa Erzsébet (Elisabeth) quis que seu filho, ainda nem nascido, fosse o próximo rei e numa noite roubou a coroa do Castelo de Visegrád. Sua mais leal camareira ajudou-a e documentou o ocorrido em detalhes num diário. Embrulharam a coroa num travesseiro enorme e como o Danúbio estava congelado, quiseram atravessá-lo num trenó para chegar a Komárom, cidade não muito longe dali. Mas o gelo cedeu e quase tudo se perdeu nas águas do rio. Por sorte a coroa foi salva mas na confusão levou alguns sérios golpes. O diário da camareira não menciona o fato da cruz ter entortado, mas é possível que tenha.
Um desenho de 1620 mostra a coroa ainda com a cruz em pé, mas isso não comprova nada. Nos duzentos anos que se seguiram a coroa viajou centenas ou talvez milhares de quilômetros pois a cada nova batalha ou revolta o símbolo do poder precisava ser escondido e bem guardado. A coroa visitou Pozsony inúmeras vezes (hoje Bratislava), Ecsed, Trencsén, Linz, Passau, Viena, Komárom e mais alguns castelos espalhados pelo reino. As condições das estradas de terra e das carroças eram bastante precárias (se comparadas aos automóveis com amortecedores de hoje em dia) portanto vocês podem imaginar pelo que passou esta bela jóia durante a sua história.
Pesquisas recentes demonstraram, que no dia 14 de fevereiro de 1638 a Santa Coroa sofreu um novo acidente. Ela era guardada dentro de uma capa de cobre, que por sua vez ficava num pequeno baú. Naquele dia houve a coroação da rainha Maria Anna, primeira esposa de Ferdinando II e o camareiro real foi incumbido à última hora de trazer a coroa do rei para a festa. Como ele estava com pressa e havia perdido a chave do baú, este foi aberto de forma violenta, possivelmente entortando a cruz. Mas novamente isto é só especulação, pois ilustrações posteriores, de 1741 e 1790 por exemplo, mostram a cruz ainda em pé.
Em 25 de maio de 1784 o camareiro real do rei József II relata o seguinte: „No dia de hoje, vinda de Pozsony, recebi a Santa Coroa do Reino, que está com a cruz entortada.” Parece que essa é a primeira vez que mencionaram o fato por escrito. Quase todas as ilustrações futuras já mostram a coroa com a cruz torta.
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