O dia 6 de dezembro está chegando! Para quem não sabe, neste dia comemora-se o dia de São Nicolau (Mikulás, ou Papai Noel) por aqui. Na noite do dia 5 as crianças colocam seus sapatinhos ou botinhas no beiral da janela e na manhã seguinte estes aparecem cheios de bombons, chocolates, nozes, avelãs e eventualmente um „virgács” se a criança não foi boa o suficiente, ou se suas notas escolares não foram as esperadas. Virgács é um punhado de varas finas de vidoeiro amarrados com um arame fino, que era usado no passado para bater. Hoje é só um símbolo da antiga palmatória, mas nenhuma criança gosta de encontrar um virgács dentro do seu sapatinho na manhã do dia 6, não!
Aqui na Hungria o Papai Noel não é um símbolo natalino como no Brasil (ou como o Santa Claus é nos países anglo-saxônicos), mas sim do Advento, da época na qual nos preparamos espiritualmente para a „chegada da luz”. Depois das Festas „a escuridão se vai” não só simbolicamente, mas na prática também por que os dias começam a ficar mais longos e as noites mais curtas. Não foi por acaso que a Igreja optou por colocar a comemoração do nascimento de Jesus nesta época do ano.
O bonachão de roupa „piros” (que originalmente não era desta cor, vide artigo „Aqui vai o gabarito…”) só faz parte dos costumes húngaros há uns 150 anos. Na época do pós-guerra o então regime comunista fez de tudo para que o Natal perdesse sua conotação religiosa e rebatizou a festa de Fenyő Ünnepe (Festa do Pinheiro) e o Mikulás de Télapó (Pai Inverno) sugerindo que ele fosse „um bom camarada”. Mas não deu certo. Embora muitos usem o termo Télapó ainda hoje, este já perdeu sua conotação „vörös” totalmente.
O pessoal de marketing trabalha fortemente a imagem do velhinho no início de dezembro, mas ela vai se esvaindo e perto da Véspera de Natal o Papai Noel não é mais visto nas propagandas de TV ou cartazes de rua. Mais uma curiosidade é que quando o Papai Noel aparece nos shoppings ele está sempre acompanhado de duas ou três „krampusz”, mocinhas vestidas de capeta com collants pretas e vermelhas e chifres na cabeça. O costume de assustar ou castigar as crianças más veio dos colonos saxões que habitavam o norte do país (hoje Eslováquia) e a Transilvânia (hoje Romênia). São Nicolau foi um santo muito querido naquelas regiões de culturas múltiplas. A origem da palavra krampusz é „Krumm-fuss” ou „Klumpf-fuss”, expressões alemãs que lembram as patas do diabo. Mas essas doces moças, embora diabólicas na sua aparência, são sorridentes e não afugentam as crianças… muito pelo contrário. Elas ajudam o Papai Noel na distribuição dos presentes e atraem os olhares dos papais enquanto os pequenos conversam com o velhinho.
Mas qual a origem do nosso personagem? Nascido na cidade de Patara, Ásia Menor por volta do ano 274 (algumas fontes mencionam 245, outras chegam até a 280), Nicolau foi filho de uma família rica. Perdeu os pais numa epidemia que dizimou a cidade e, após distribuir sua herança entre os pobres, foi morar com seu tio, que era bispo de Patara. Por influência do tio optou pela teologia e tornou-se padre.
Conta-se que durante o império de Deocleciano, Nicolau passou algum tempo na prisão, mas foi logo libertado. Um dia, voltando de uma peregrinação à Terra Santa parou em Myra, capital da Anatólia, onde teve uma enorme e grata surpresa. Diz a história que a Igreja em Myra era muito corrupta e que os clérigos brigavam muito entre si pelo poder. Após umas dessas graves discussões, um dos sacerdotes teve uma visão divina e sugeriu aos outros: „Que seja nosso bispo o próximo padre que entrar pelos portões da cidade!” Algumas horas depois Nicolau chegou e, tomado de surpresa, foi nomeado bispo, aos 24 anos de idade!
Nicolau (ou Miklós em húngaro, pois Mikulás é um apelido carinhoso de origem tcheca) dedicou sua vida inteira à educação e ajuda das crianças. Participou do Sínodo de Nicéia em 325, o primeiro Concílio Ecumênico do mundo. Morreu em Myra (hoje Demre) no dia 6 de dezembro de 350. Algumas fontes mencionam o ano de 326 mas em todo caso, seu bispado durou 52 anos. Podem fazer as contas, se quiserem.
Além de ser o símbolo da bondade, tornou-se patrono dos guardas noturnos e santo protetor dos marinheiros, dos pescadores, das crianças e – vejam só! – das virgens. Uma lenda conta que um pai malvado tinha três jovens filhas e que como não havia dinheiro em casa, ele tentou convencê-las a vender prazeres carnais, ajudando assim no orçamento familiar. Nicolau apareceu de surpresa entregando várias moedas de ouro às meninas pela janela (aqui o motivo de por que colocar os sapatinhos „na janela”), salvando-as deste triste fim.
Fico aqui pensando com os meus botões: será que as três „krampusz” que sempre o acompanham tem algo a ver com isso?
Ah, aqui não temos renas, viu?!
December 03, 2005
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1 comment:
Uma reportagem do Fantástico (que eu assisti aqui em Budapeste!) disse que os ossos de São Nicolau foram roubados por 50 marinheiros italianos e que ele está enterrado em Bari, na Itália. Foi dito também que quando o aclamaram bispo (ao chegar em Myra) ele era leigo e não padre. Minhas pesquisas dizem o contrário. Acho que nunca saberemos a verdade...
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