November 22, 2005
Duas almas
Como este blog é intitulado „Gábor e seus amigos”, convido todos vocês a mandarem
textos interessantes, como o que segue:
(por György László Gyuricza)
"Zwei Seelen wohnen, ach! in meiner Brust,
Die eine will sich von der andern trennen;
Die eine hält, in derber Liebeslust,
Sich an die Welt mit klammernden Organen;
Die andere hebt gewaltsam sich vom Dust
Zu den Gefilden hoher Ahnen." ( Goethe )
Lembrei-me desses versos de Goethe em Faust (vol. 1) pois estou escrevendo um conto relacionado com o assunto e queria ilustrá-lo com a citação do filósofo alemão. Fui até a estante, peguei o original e o transcrevi para o papel, exatamente como vocês estão vendo aí em cima.
Considerando que a grande maioria dos leitores não fala alemão ou fala sem a profundidade suficiente para compreender versos escritos há mais de duzentos anos num alemão antigo e pomposo, peguei da caneta e, tentando ser o mais fiel possível às palavras do autor, fiz a seguinte tradução:
Duas almas moram, ah, em meu peito
Uma quer, da outra, separar-se;
Uma, em rude volúpia carnal,
apega-se com unhas e dentes aos prazeres mundanos;
a outra ergue-se violentamente das brumas
para a região do elevado saber.
Achei que ficou muito boa. Alguns dias depois, matutando sobre o assunto, concluí que estava sendo terrivelmente pretensioso em achar que com o auxílio da memória (estudei estes versos na escola há mais de quarenta anos) e de um dicionário moderno conseguira desvendar todas as sutilezas destas estrofes do poeta maior da Alemanha.
Resolvi pesquisar o assunto mais a fundo e com a inestimável ajuda de Frau Jutta do Goethe Institut/RJ e de alguns sites da Internet, obtive diversas traduções muito mais abalizadas do que a minha.
Todavia, ao invés de o assunto ter sido esclarecido definitivamente, mais dúvidas surgiram e agora, sinceramente, não sei mais por onde prosseguir.
Tenho certeza que quem melhor traduziu as intenções do autor foi meu irmão Gábor, em sua versão do Fausto Nordestino:
Duas almas, óxente, amancebaram-se no meu peito,
uma tá arretada com a outra, mode não querer mais ficar junto, não
uma só pensa em se agarrar e transar o dia inteiro
a outra em se arribar da poeira - e ficar matutando besteira.
Mas não é esse o ponto fulcral. Pelas duas versões acima, acho que não resta dúvida quanto ao conteúdo do que Goethe quis dizer. A questão que se coloca, é como traduzir para o português do Brasil, sem invencionices e falsa erudição, algumas poucas palavras, aparentemente corriqueiras da língua alemã.
Se você quer me ajudar na tradução definitiva, não precisa saber falar alemão, basta conferir o que eu garimpei até agora e me enviar a sua versão.
Zwei Seelen wohnen, ach! in meiner Brust,
Die eine will sich von der andern trennen;
Duas almas moram, ah, em meu peito,
uma, da outra, deseja separar-se;
Duas almas tenho em meu coração,
uma da outra a querer se separar:
Vivem-me duas almas, ah! no meu seio,
querem trilhar em duas opostas sendas;
Duas almas, oh! moram dentro do meu peito,
e aí lutam por um indivisível reino;
Duas almas habitam no meu peito,
uma da outra separar-se anseia:
Duas almas convivem em meu peito,
uma tenta se dividir da outra;
Neste meu peito, guardo duas almas:
uma a querer separar-se da outra.
Duas almas ah! moram dentro de mim,
e cada uma delas quer se separar da outra
No meu corpo há duas almas em competição,
anseia cada qual da outra se apartar.
Die eine hält, in derber Liebeslust,
Sich an die Welt mit klammernden Organen;
Uma rude me arrasta aos prazeres da terra
e se apega a este mundo com anseios redobrados;
Uma, ardente de amor, se prende ao mundo,
por meio dos órgãos corporais;
Uma no mais vivo prazer de viver,
se prende ao mundo com órgãos tenazes;
A primeira, num prazer carnal primitivo,
se apega ao mundo com seus orgãos aderentes;
Uma com órgãos materiais
se aferra amorosa e ardente ao mundo físico;
Uma aspira pela terra, com vontade apaixonada;
às íntimas entranhas ainda está ligada.
Uma se agarra, com sensual enleio e órgãos de ferro,
ao mundo e à matéria:
Uma apega-se, em paixão rasteira,
com todos os seus orgãos às matérias;
Uma, em rude volúpia sensual,
se agarra ao mundo com toda a avidez dos sentidos.
Die andere hebt gewaltsam sich vom Dust
Zu den Gefilden hoher Ahnen.
A outra ergue-se violentamente das trevas
para os campos do alto saber
A outra ergue-se violentamente das brumas
para a região dos altos pensamentos
A outra quer erguer-se da poeira
E subir ao reino da sua origem etérea.
Acima das névoas, a outro aspira, de certeza,
com ardor sagrado por esferas onde reine a pureza.
Outra quer ensofrida remontar-se
de sua excelsa origem às alturas
A segunda se eleva energicamente da poeira
para os campos de seus nobres antepassados.
A outra se ergue, com força, do pó
aos campos dos sentimentos elevados
Outra ascende nos ares; nos espaços erra,
aspira à vida eterna e a seus antepassados
Um movimento sobrenatural arrasta a outra para longe das trevas,
rumo à alta morada de nossos avós!
Muito bem… quem se habilita a ajudar meu irmão György?
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4 comments:
Dobrei de rir do seu "Lampião" em crise existencial...
Gábor: este teu blog é intrigante!
Que tal simplificar assim?
"Meu coração tem duas almas
Que só fazem querer se apartar:
Uma, lasciva, só vive de amores, a outra vai morrer de tanto pensar.
Abraço.
Árpád Koszka
Árpád,
Essa sua versão é muito boa. A Anna Barbara também colocou sua azeitona nesta empada. Segue a versão dela:
"Duas almas, ah, moram em meu seio
Uma quer da outra a separação
Uma se apega com ardente enleio
Aos prazeres do mundo e da paixão
E a outra, das brumas, procura esteio
No campo do saber e da razão."
Gyuri,
traduzir esse poeminha vira a coisa mais fácil do mundo, se compararmos esse desafio com suas perguntas de lógica...
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